Cambaleante e deixando um rastro de sangue ele entrou na cozinha. Caiu aos meus pés. Era a TERCEIRA vez que acontecia. Com ele desmaiado nos meus braços saí, olhei pra cima, espalmei as mãos na direção do céu e praguejei: se foi arte de gente, eu desejo que quem fez isso seja atingido da mesma forma que atingiu, que tenha o corpo lesado. E tem mais: quero saber quem foi. Quero ver a pessoa passar na minha frente ferida e sofrendo! Acabei de falar, cuspi na terra e entrei no carro. Veterinário, aí vamos nós.
No caminho, São Francisco e Nossa Senhora passem à frente e limpem este engarrafamento. Eficientes, como sempre que preciso muito, eles abriram caminho.
Na clínica, Kenzo de novo?!! D. Fátima, a senhora não acha melhor tirar logo o rabo deste gato...?, Doutor, o senhor não repita isso! O médico se retirou pra salvar o gato e o rabo.
Esperei o fim da cirurgia me perguntando como aquilo tinha acontecido. O rabo cortado ao meio, ao longo do comprimento. Até parecia um gato com dois rabos. Só uma vizinha tinha implicado com os gatos. Será que...?
Costurei o melhor possível, mas se necrosar... a senhora traga que não lhe cobro a amputação. Esse médico quer entrar na fila dos praguejados?!, só pensei, não disse. Puta da vida, fui ver meu querido que ferido ficou ainda mais querido.
Curativos e curativos depois, o rabo já começava a nascer pêlo. Um dia, saindo pra comprar ração, dei de cara com a vizinha descendo do carro, toda encurvada, com um soro no braço, andando mal e tropegamente. Con-ge-lei. Ela não me viu atrás do vidro fechado do carro. Muda, só consegui murmurar, foi ela e a praga pegou! Oscilei entre arrependida e vingada.
Depois de Kenzo correndo como louco pela casa e rodando o rabo feito um chicote, me arrependi muito de ter praguejado. Coitada da vizinha. Coitada...
Outro dia, encontrei de novo com ela, já recuperada e bem disposta, como Kenzo. Mais perto do arrependimento, falei, oi vizinha, vi que você andou doente... E ela, não, fiz uma lipo.
hÃ?!
hÃ?!
Nenhum comentário:
Postar um comentário